Kriver

 Por Lucas Antonucci


Mais uma banda de Recife aqui no Mines, a cena por lá têm mostrado qualidade, eu já conhecia a banda mas não a origem. Dessa vez é a banda Kriver, e faremos uma resenha do seu segundo Ep “Torrential”, lançado nesse ano. A proposta da banda é um Heavy Metal bastante tradicional. Aliás, tradicional mesmo. O que quero dizer com isso é o seguinte, quando usamos o termo Metal tradicional, muitas vezes serve para desambiguação com as subdivisões do estilo Thrash, Black, Death, etc. Ou seja Heavy Metal “normal”, puro, feito as primeiras bandas do estilo. Mas as bandas novas de Heavy nem sempre são tão tradicionais. Vários clichês de outras vertentes do Metal vêm (poluindo? Não), vêm sendo usadas por quase todas as bandas de Metal na subdivisão Heavy. Clichês como chuva de pedais duplos, gritos agudíssimos a exaustão, afinações baixíssimas, solos necessariamente ultra rápidos, usar captador EMG 81 (piadinha). Ou seja, dentro do Metal, são bandas Heavy como subdivisão homônima ao conjunto todo, todavia nem sempre são tradicionais. Quando há bandas de Heavy Metal tradicional, aí geralmente são saudosistas, fazendo questão de ter postura, visual, letras e tudo o mais feito as bandas de uma determinada época, geralmente os anos 80 mesmo. E por vezes essas bandas saudosistas, tendem a plagiar bastante o que já foi feito. Têm doido até hoje querendo trocar fita K7!



O caso, é que a Kriver é uma banda de Heavy tradicional, sem saudosismo, e de forma alguma é datado. É que essa banda manteve os elementos tradicionais sem maneirismos gratuitos poluindo o som, nem uma obrigação ortodoxa como limite.
 

Vamos à cena do crime, a gravação é excelente, de primeira. A banda soa toda coesa com destaque para o vocal, que com técnica excelente, faz linhas vocais bem variadas é a parte mais marcante do trabalho. A interpretação vocal é foda, sem apelação. As vezes rola uns ‘r’ puxado, tipo sotaque romeno à la drácula, achei legal. A voz do Rafael Gorga é bastante agradável, e a interpretação é própria, o elemento que dá mais personalidade a banda. As harmonias vocais também estão presentes e muito bem.

O instrumental apresenta climas com muita dinâmica. As transições instrumentais como um todo são muito coesas, nem são cruas e abruptas, nem tampouco progressivamente chatas. A composição é muito bem feita e cada parte têm seu papel e o que trazer a música.
 


O timbre das guitarras está matador, na medida certa pro estilo e para essas músicas, drive de uma forma que se escuta os acordes abertos, mas corpo para puxar o instrumental. Aliás, o timbre é bastante orgânico, a captação passiva junto da regulagem sem excessos deixa tudo muito natural, nem a compressão da gravação ofusca isso. Até fiquei brincando aqui de diferenciar o timbre do Bruno Oliveira e do Marcelo Neves, a princípio mais evidentes nos solos a diferença, mas depois que se acostuma também nas bases dá pra notar. Indico essa digamos brincadeira, para os mais aficionados por timbres e guitarristas com dificuldade de timbrar. Eu adorei isso na gravação, nada pasteurizado. Não chega a ser tão difícil quanto diferenciar digamos Kerry King de Jeff Hanemann que a primeira escutada são iguais nos primeiros álbuns, nem são timbres descoesos. Com o tempo, mesmo quando os caras variam de captador dá pra sacar ainda quem é quem. Me parece que o Marcelo é o primeiro a solar a maioria das vezes, com um timbre mais macio, com corpo e conciso. Enquanto o Bruno têm um som mais estalado e aberto. Tente prestar atenção nas transições entre cada solo, e o clipe de Gambling With The Reaper vai te ajudar a ver quem é quem. Depois tentem sacar em qual músicas essa ordem se altera.


Mesmo com essas características, os timbres de guitarra apesar de serem muito tradicionais, não são imitações dos velhos sons de guitarra dos anos 80, se o que leu até agora te faz imaginar os velho valvulados britânicos, não é esse timbre como um plágio que vai encontrar, embora também seja um timbre que vai agradar os fãs do passado e totalmente combinando com o estilo. É mais não é, quer entender dê uma chance e vá escutar.

O som da banda me lembra alguns elementos do álbum Somewhere in Time do Iron Maiden, vocal variado, muitos acordes nas bases, solos muito musicais, um som mais cadenciado que rápido, com modulações ditando as partes diferentes. Acaba sendo legal até mesmo porque o vocalista Rafael Gorga não imita o Bruce em momento algum, o que acaba digamos que, permitindo que as guitarras tenham o Iron Maiden como uma influência mais visível em certos momentos, sem comprometer o trabalho da banda. Outro mérito é que eles não estão imitando os riffs do grande Iron, mas sim demonstram uma assimilação muito forte dessa influência, mais até nos solos e passagens em terças que nas bases.
 

As bases além da influência de New Wave Of British Heavy Metal que prevalece, os caras também devem escutar tudo que rodeou o cenário da NWOBHM, antes e depois, como rock clássico, hard, prog e power metal. 

A cozinha é bem firme, talvez um mérito extra para o batera Ricardo Lira por saber muito bem tocar ao Heavy Metal também devagar, e com muita consistência, sem deixar soar punk (erro comum), nem deixar o groove fugir. Não é o que chama a atenção à primeira vista, e talvez seja uma coisa que anda rara, mas que como vemos aqui, não podia ser mais acertado. O uso do pedal duplo não é restrito nem exagerado, acho que estilo seria como se alguém da NWOBHM tocasse até hoje, sem ignorar atual pedal duplo onipresente, mas sem aderir ao modismo a ponto de se descaracterizar. Só prestei atenção nisso após várias audições, mas agora me chama mais atenção o que ta rolando na cozinha quando as coisas não estão rápidas. Guilherme Cordasso completa o time no baixo, com o bom som de dedos nas cordas e marcando cada parte, embora sem firulas se percebe que é a velha escola do baixo e batera fazendo as bases, pois ele toca suas próprias linhas marcando a banda. O mesmo que eu disse pra batera vale para o baixo, após as primeiras audições vemos que o trabalho da cozinha é bastante sólido.Enfim banda recomendada, tá aí um som que fazem como antigamente, não é ultrapassado, não é um plágio e têm toda qualidade.


Em relação ao trabalho anterior, o Ep “Toxic Blood” de 2010, este trabalho demonstra mais personalidade, e também um estilo mais definido. O trabalho anterior que também contava com 5 músicas era bem mais Hard Rock, e as linhas vocais estavam com a personalidade ainda maturando, soando muito bem em timbre e técnica, contudo mais comuns.

Banda que eu recomendo pra quem busca uma alguma novidade e curte a linha NWOBHM, ou só queira ouvir boa música. Aguardamos um CD completo.




Rafael Gorga - Vocais / Marcelo Neves - Guitarra / Bruno Oliveira - Guitarra / Guilherme Cordasso - Baixo / Ricardo Lira - Bateria